VALORIZAR A ÁGUA

26/01/2023

No mês em que assinala os seus 35 anos, a APDA realizou mais um evento focado nas questões mais prementes do setor. O Colóquio "Águas: valores e custos, riscos e oportunidades”, a 11 de janeiro, reforçou a necessidade efetiva de assegurar a sustentabilidade dos serviços de abastecimento de água e saneamento, de conferir à água o seu verdadeiro valor, bem como de alcançar uma gestão integrada dos recursos hídricos para que cada utilização seja pertinente e adequada a cada finalidade.

A primeira parte do evento consistiu na apresentação do livro “Água e Saneamento em Portugal - O Mercado e os Preços 2022”, ferramenta de apoio ao setor desenvolvida pela Comissão Especializada de Legislação e Economia (CELE) da APDA. Neste âmbito, intervieram alguns dos elementos que compõem a referida comissão: Lídia Lopes (Coordenadora) contextualizou a décima edição da publicação, fazendo uma linha evolutiva relativamente às anteriores; Paula Lopes debruçou-se sobre a caracterização das Entidades Gestoras; Paulo Gromicho abordou a tipificação dos tarifários; Paulo Sá expôs a evolução dos preços nos serviços de abastecimento de água e saneamento; e Francisco Morais fez uma análise de conjuntura às Entidades Gestoras dos serviços de água. Ao participar via online, Sérgio Hora Lopes classificou as alterações climáticas como o maior problema que o setor enfrenta, cujos efeitos, como as secas e as inundações, se estão a tornar fenómenos cada vez mais extremos e frequentes, refutando a superioridade da Mãe Natureza e de como temos de nos adaptar.

 

No debate que se seguiu a esta sessão, moderada por Jorge Nemésio (Vice-Coordenador da CELE), foram também salientadas questões críticas como a perda de perceção do custo da água e os reais problemas advindos do défice de reabilitação das infraestruturas.

Tendo em conta que o valor da água foi reforçado perante a pandemia, o esforço para o incrementar tem de ser contínuo, porque sendo um recurso essencial à vida a que, felizmente, a maioria dos portugueses tem acesso, gera um sentimento de dado adquirido que precisa de ser combatido. A água e o saneamento são direitos fundamentais a todos os seres humanos, mas estes serviços só são exequíveis através de um conjunto de processos, infraestruturas e recursos humanos, que proporcionam gestos tão comuns como abrir a torneira ou descarregar o autoclismo. Por isso, e como outros serviços essenciais à população (eletricidade, gás e até a mais recente “necessidade” humana – serviços móveis de voz e internet), implicam custos substanciais que têm de ser devidamente cobertos.

Para analisar e debater os “Aspetos económicos das águas para reutilização e da gestão das águas pluviais”, seguiu-se uma mesa-redonda que contou com a participação de diversos especialistas moderados por J. Henrique Salgado Zenha, Vice-Presidente do Conselho Diretivo da APDA, que impulsionou o debate.

Alexandra Serra, Presidente do Conselho de Administração da Águas do Tejo Atlântico, demonstrou o compromisso da empresa na reutilização da água, apelando à importância da gestão integrada dos recursos hídricos (de todos os tipos de origem).

Francisco Narciso, Presidente do Conselho de Administração da Águas Públicas do Alentejo, afirmou que o setor está ávido de uma reestruturação financeira, seja pela sustentabilidade que exige, seja pela equidade que precisa de alcançar para aumentar a eficiência.

Na perspetiva de José Núncio, Presidente da Direção da FENAREG - Federação Nacional de Regantes de Portugal, é clara a necessidade de definir a segmentação da reutilização da água e da gestão das águas pluviais para uma maior coerência no setor.

José Pimenta Machado, Vice-Presidente do Conselho Diretivo da APA, sublinhou que nunca se falou tanto em Água para Reutilização (ApR), porque o ano de 2022 foi extremamente seco. A utilização desta em usos não potáveis tem aumentado e deve ser promovido, mas, de acordo com o especialista, a ApR vai ter sempre mais sucesso onde a água for mais escassa.

Já Luís Correia da Silva, Presidente da Direção do Conselho Nacional da Indústria de Golfe, expôs como esta indústria é (e tem sido) recetiva a alternativas mais sustentáveis para a manutenção das respetivas infraestruturas, desde que essas sejam seguras e economicamente viáveis

Entretanto, Vera Eiró, Presidente do Conselho de Administração da ERSAR, sublinhou que a exploração de outras alternativas/ origens da água tem o seu peso de importância, mas o primeiro passo para garantir a disponibilidade de água é garantir a redução das perdas reais no país, que são ainda muito elevadas.

O colóquio: "Águas: valores e custos, riscos e oportunidades” teve lugar no Observatório do Sobreiro e da Cortiça, em Coruche, no dia 11 de janeiro, tendo reunido cerca de 100 participantes.